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Reportagem especial: Conheça um pouco da história do carnaval do Boi do Chora em Jaguarari contada por moradores da cidade; confira o vídeo

(Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Este ano de 2021, por conta da pandemia da Covid-19, o carnaval vai “passar em branco”, em Jaguarari. A expectativa para a 3ª edição do Resgate do carnaval do Boi do Chora e, do Carnaval do Povo que chegaria ao seu oitavo ano, foi frustrada. Na tentativa de relembrar o mais famoso dos blocos da festa de momo da região, o Boi do Chora, a equipe do Portal Jaguarari coletou depoimentos de antigos moradores da cidade e, de uma professora que estudou o assunto, para levarmos até você, nosso internauta, principalmente os mais jovens, como era comemorado este bloco em Jaguarari. 

De acordo com relatos o Boi que saía fazendo a alegria do povo pelas ruas de Jaguarari, iniciou em torno dos anos 50, que até então fundado por uma pessoa desconhecida, que assumiu posteriormente um homem conhecido popularmente como “Cabelo”, este então que residia onde hoje é a Rua Alto de São Vicente. José Bispo o “Chora” entra nesta história ainda criança muito extrovertido acompanhava seu pai de apelido “Mestre” os amigos “Vei Baiano” e “Cazuza” sanfoneiros da famosa quatro baixos que faziam parte do samba de palma e gostavam de uma boa festa. 

Em 1958, devido a participação assídua de José Bispo e sendo um dos destaques do bloco, nomearam o boi com seu apelido, tornando assim o “Boi do Chora”, anos depois com a morte de “Cabelo”, o “Chora” teve a difícil missão de continuar com a tradição juntamente com o Carnaval da Sociedade 7 de setembro, onde atualmente é o prédio do Ponto SAC e do Centro Paroquial na Rua Marcolino Barros, que serve de deposito pela gestão municipal e infelizmente se encontra em péssimo estado de conservação. 

Eventos paralelos ao Boi do Chora 

Além do tradicional Boi do Chora, o carnaval de Jaguarari, também acontecia em pelo menos dois pontos da cidade. O primeiro era na extinta Sociedade 7 de setembro, na Praça Lauro de Freitas, onde segundo relatos, o evento era pago, e só adentrava ao local para se divertir, com direito uma banda que reproduzia músicas bem ecléticas mesmo para aquela época. 

(Foto: Terezinha Candido/Arquivo pessoal)

“Na sociedade de Jaguarari, só entrava quem tinha condição, quem tinha dinheiro, eu me lembro que um ano eu fui, tinha uns 10 anos, a gente só faltava saltar da janela para dentro, por que eles fechavam a porta, e deixavam só a janelas abertas pra gente ficar olhando. Era uma brincadeira muito bonita todo mundo fantasiado”, destacou a aposentada de 76 anos, Terezinha Candido da Silva. 

(Alberto Candido/Foto: Portal Jaguarari)

Em outro ponto da cidade, hoje é a Rua Marcolino de Barros, acontecia o famoso Carnaval do Centro Paroquial, ali todo folião jaguarariense participava, bem organizado com horário para a criançada e para os adultos. “O carnaval do centro paroquial era a tarde com a matiné das 13h às 18h especialmente para as crianças, e a noite os adultos, com bandas de outras cidades, tocando famosas marchinhas, as vezes começava no sábado só terminava na terça”, disse o Irmão de Terezinha, Alberto Candido da Silva, o “Bertinho”, 86 anos, que não perdia uma festa. 

(Dona Flávia/Foto: Portal Jaguarari)

A dona de casa Eufracina Maria da Silva, conhecida por “Dona Flávia”, 80 anos, que festejou muitos carnavais e viveu grandes momentos no salão paroquial chama a atenção para o abandono do prédio. “As festas eram para ser ali, porque eu alcancei o carnaval ali, com meus filhos todos pequenos, eu arrumava eles e ia pra matinê, e era muito bom o carnaval, todo mundo brincava fantasiado, eles faziam aquelas roupas parecendo umas almas, quem via eles, a gente se assombrava. Eles sabiam brincar um carnaval naquele tempo, agora não sabem mais”, disse a dona de casa. 

(Centro Paroquial/foto: Portal Jaguarari)

Boi do Chora foi tema de trabalho de Universitários 

No ano passado (2020), estudantes da UNEB – Universidade do Estado da Bahia, Campus de Senhor do Bonfim, escolheram como tema para um trabalho, a história do carnaval do Boi do Chora, a equipe formada por estudantes de Jaguarari e Senhor do Bonfim, principalmente do distrito de Igara puderam conhecer a cultura da festa de momo do município. “A gente escolheu este tema por que, querendo ou não o Boi do Chora é um dos movimentos culturais, que está esquecido, por conta disso a gente quis trazer, até mesmo como forma de demostrar os outros colegas, como era, e como é”, informou a jovem professora Karen Giovanna da S. R. dos Santos, 23 anos. 

(Universitários que produziram trabalho sobre o Boi do Chora/foto: Portal Jaguarari)

A professora destacou a importância da história do bloco que animou por muitos anos os carnavais da cidade, no entanto chamou a atenção para a falta de material que mostre a história, bem como fotografias e, isso tornou uma dificuldade para ela e seus colegas conseguirem fatos documentados, até por que o Boi do Chora faz parte da história de Jaguarari e deve ser estudada. 

(Professora Karen Giovanna/foto: Portal Jaguarari)

“A história é muita interessante só que não é contada, o que me preocupa como professora é justamente isso, por que a gente vai para escola, a gente aprende muito sobre carnaval, aprendemos muito sobre São João, a gente aprende sobre essas outras manifestações culturais, mas a história, por exemplo do Boi do chora eu não conhecia e quando fui fazer este trabalho, com meus pais, meus tios, que participavam, até por que eu via. Então o que me chamou mais a atenção foi a história, a história é interessante é bonita e precisa ainda ser estudada, por que a gente teve dificuldade na verdade de encontrar a história, um diz uma coisa, outro diz outra, não tem nada documentado, nada escrito, então foi uma das dificuldades que a gente teve, mais a história do boi do chora é muita interessante, é muito rica. É uma das manifestações culturais de Jaguarari que merece atenção, principalmente para ser escrita, para procurar história, procurar fotos e não tem isto, e é necessário”, disse Karen. 

Altos e baixos do Boi do Chora até seu fim 

Por muitos anos o bloco do Boi do Chora foi o principal evento do carnaval de Jaguarari, mas até os mais consagrados tem seus altos e baixos, chegando a não ser realizado nos anos 90 e, retornando após apoio da prefeitura municipal, mas anos depois, o que seria apenas um pequeno acidente de trabalho, levou Chora a ficar enfermo, posteriormente levando a sua morte em 2004, para o fim do Boi do Chora, e a tristeza para o povo jaguarariense, não só por causa do bloco, mais também pela pessoa que ele representava no município. 

Segundo um dos seis filhos do “Chora”, Adauto Marques Bispo, 49 anos, conhecido como “Adauto Bahia”, ele começou acompanhar o pai no carnaval em 1976. “Eu me lembro que era criança, e comecei a acompanhar o carnaval mesmo com meu pai, andado pelas ruas com o Boi do Chora, em 1976, eu me lembro de meu pai, já com pessoal vestido de mulher, outros vestidos de guarda, bombeiro, cada um tinha sua fantasia, uns usavam peruca, outros faziam uma máscara”, disse. 

(Natália viúva de Chora e o filho Adauto/foto: Portal Jaguarari) 

Ainda de acordo com Adauto, de 1976 até 1990, foi o auge do Boi do Chora que arrastava multidões pelas ruas de Jaguarari, sempre no domingo e terça de carnaval, os batuques ás 14h, era o despertador que era a hora do Boi do Chora, e todos seguiam para antiga Rua Alto das Cajazeiras, atualmente Rua José Bispo que leva o nome de Chora, onde o mesmo residia e a família dele mora até os dias de hoje. 

A partir de 1990, por motivos desconhecidos o número de participantes caiu bruscamente, fazendo Chora interromper a tradição, mais o folião sentiu saudades das divertidas tardes de carnaval e pediu o retorno, ao mesmo tempo que o Departamento de Cultura deu o apoio e o incentivo que Chora precisava para colocar o bloco na rua novamente. 

“O povo ficava pedindo, veio o pessoal da cultura, na época do Edilberto (prefeito), ele deu uma charanga (banda de música geralmente composta apenas por instrumentos de sopro), foi a mesma coisa dele (Chora) ter ganhado na loteria, por que era uma coisa que ele gostava, e aquilo foi um incentivo para ele, e eu acho que até hoje, onde ele estiver, se estiver vendo ele tá na maior felicidade do mundo, pois vocês estão relembrando e dando continuidade uma coisa que ele gostava de fazer”, destacou Adauto. 

O bloco continuou a animar os carnavais de Jaguarari, chegando a ser o segundo maior evento do município, só atrás dos festejos de São João, porém segundo relatos de amigos, um pequeno acidente de trabalho levou Chora a possuir complicações em sua saúde. Ele realizava manutenção em seu caminhão que além do carnaval era algo que gostava de fazer, que era dirigir, pois era caminhoneiro, quando bateu a cabeça na carroceria do veículo, ocasionando problemas no cérebro, o que levou inclusive o cancelamento do carnaval de 2004, pois Chora se encontrava enfermo, e acabou falecendo aos 55 anos em um Hospital no município de Juazeiro em dezembro do mesmo ano. 

Informações apontam ainda que ele falava sempre que por acaso morresse que continuassem com a tradição do Boi, infelizmente abatidos a família não conseguiu forças para retomar, e o Boi do Chora acabou. 

Resgate do Boi do Chora 

Antes do Resgate do Boi do Chora que aconteceu em 2019, em 2011, alguns garotos saíam pelas ruas com um boi improvisado e com a famosa “massa” que jogavam uns nos outros. A partir de 2013 o ex-jogador Natan juntamente com o pessoal dos pebas tentaram resgatar o Boi do Chora, porém sem o apoio devido do poder público e de empresários, o projeto não foi a frente, mais no ano seguinte Natan conseguiu o apoio de João Bananeira e do já falecido Zé de Souza, que contou com som ao-vivo na Lanchonete Central. Ainda em 2014 surgiu o Carnaval do Povo, uma organização de amigos, com uma roupagem mais atual, o folião sempre muito bem fantasiado e a presença indispensável do boi, saía durante a noite e, ao fim acontecia shows ao-vivo no Mini Trio AP. 

(A esquerda tentativa do resgate do Boi do Chora em 2014 e Carnaval do Povo em 2016/ fotos: arquivo - Portal Jaguarari)

Em 2019, amigos e familiares do eterno Chora, tiveram a ideia de “ressuscitar” de vez o Boi do Chora, haja vista que as investidas anteriores não surtiram o efeito esperado. 

“Foi do nada, pois todo mundo se juntava em frente da casa da Delita, o Clovis o Armandinho, Felipe, Sosthenes e o Marcel, e do nada vamos fazer o carnaval do boi do chora. E eu cheguei de são Paulo em 2015 e cantei no Carnaval do povo. A ideia surgiu mais eu meio desanimado, por causa da situação financeira, aí é Deus no céu, e o homem na terra, saíram pedindo patrocínio aos comerciantes, graças a Deus, os comerciantes não recuaram, ajudaram a pagar o trio, comprar o pano do boi, comprar as bebidas para vender no percurso. Graças a Deus são umas pessoas que a gente não pode esquecer e um dos incentivadores e patrocinador foi o Gilberto do Santa Luzia”, disse o filho de Chora, Adauto. 

(Primeira edição do Resgate do Boi do Chora em 2019/foto: Portal Jaguarari)

Diante do sucesso da primeira edição do resgate do Boi do Chora, em 2019 foi realizado mais uma vez no ano seguinte, com a presença maciça da população, e este ano já estava na pauta realizar a terceira edição, porém devido a pandemia foi cancelado. 

Mesmo com uma pesquisa aprofundada e coleta de depoimentos, a história do Boi do Chora, ainda existe muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente com registros fotográficos. 

Por João Carvalho, Jair Paulo, Douglas Silva e Werick Lima, do Portal Jaguarari 

CONFIRA O VÍDEO COM DEPOIMENTOS:

 

Mais fotos:

(Na foto: Chora é o do centro/arquivo pessoal da família)


(Em 2013, Natan e jovens realizaram homenagem em frente a casa de Chora/ foto: Portal Jaguarari)


Carnaval do Povo

Carnaval do Povo

Carnaval do Povo



Resgate do carnaval do Boi do Chora 2020



Todas as entrevistas foram devidamente autorizadas pelos entrevistados por escrito ou por vídeo 

Devido os poucos recursos e a falta de apoio não conseguimos abranger mais a história (A reportagem foi produzida com esforços unicamente da equipe do PJ que passou por grandes obstáculos) 

A reportagem é uma homenagem a José Bispo “Chora”, e a todos os participantes já falecidos citados no conteúdo 

Agradecimento especial: Adauto Marques Bispo e família do Chora; Eufracina Maria da Silva; Alberto Candido da Silva; Terezinha Candido da Silva e Karen Giovanna da Silva Ribeiro dos Santos. 

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