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Artigo: Desembarque imediato

Aeroporto de Congonhas. Segundo domingo de julho. Passam, esbarram, correm, não falam e cada um vivendo imerso na individualidade sem olhar ao seu redor. Crianças, adultos e idosos compenetrados no celular, tablet, nos monitores de voos e, mais ocasionalmente, na leitura de um livro ou jornal.

É estranho perceber o quanto a civilização tem tornado fria as relações pessoais. Incrivelmente, todos dentro de um mesmo ambiente têm como fonte dos risos - solitários – as redes sociais que interagem sem o contato físico e sendo cada vez mais o suficiente para a alegria diária.

Tomadas de energia extras (pontos de cobiça) são necessárias nas salas de embarque para não gerar uma avalanche de reclamações à administração do aeroporto. Celular descarregado é sinônimo de tortura, asfixia. Próximo a cada extensão a aglomeração é inevitável e fica ainda mais claro a dependência do virtual.

Sentado no canto direito do último portão, aguardando o vôo, encontra-se um senhor de características simples, chapéu na cabeça, sandália de couro, que parece gesticular com a funcionária da companhia aérea. Me aproximo e surpreendo com o conteúdo reflexivo que faz: “o tempo passa e as pessoas ficam mais mal educadas? Porque desse jeito que vejo o comportamentos delas, preferiria estar na calçada da minha casa, na minha pacata cidade, onde posso conversar com os vizinhos e amigos sobre o dia e a vida. Tem duas horas que espero o voo e durante esse tempo não consegui ouvir um bom dia ou qualquer outro gesto de educação, cordialidade entre seres humanos.”

E prosseguindo com o desabafo – inconformado – como num monólogo diante de umas 3 ou 4 pessoas que o observavam falar, me dirijo ao seu olhar fazendo um senão de solidariedade e concordância. Desejei-o bom dia, o que seria o primeiro a escutar naquele recinto, e segui para o voo que acabara de ser anunciado. Aos que absorveram (mesmo que poucos de passagem) cada palavra de lição daquele senhor, sem dúvida, tiveram a oportunidade de refletir suas atitudes e compreender a mensagem. De maneira que a semana possa ser diferente: mais cordiais, enxergando as pessoas à sua volta e deixando o virtual um pouco de lado. A vida é um sopro e cada minuto é precioso para ouvir, dialogar, entender quem te rodeia diariamente. Enfim, “portas em automático.”

Tiago A. Fonseca Nunes

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